"Passam os anos e Portugal fenece, cada vez mais, por via da acção de uma elite política corrupta, interesseira, “tachista”, oportunista e claramente criminosa, que vive num pântano de impunidades, cumplicidades, traições e intrigas. De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto "
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quarta-feira, 18 de março de 2015
GOSTAR DO QUE É PORTUGUÊS...
POR PAULA GOMES PINTO
Há umas semanas estava num concerto do António Zambujo quando o ouvi a falar sobre a cada vez maior necessidade de gostarmos do que é nosso, numa altura em que a União Europeia sofre do síndrome da desunião. É certo que temos um tendência terrivelmente irritante para apequenarmos o que é nosso , mas de vez em quando é preciso relembrar que são precisamente as pequeninas coisas que nos tornam únicos.
Escusado será dizer que todos gostávamos muito de ter uma economia sólida, um grau de corrupção menor e uma classe política mais responsável e fiável. Mas essas são as tais coisas grandes. Falo do simples, do mais simples que há. Lembrei-me disto novamente esta manhã enquanto comia um pão com manteiga na padaria lá do bairro e ouvia os vizinhos mais castiços à conversa: há mais algum país no mundo onde o pão nacional tenha o delicioso nome "papo-seco"? Ou onde se use a maravilhosa expressão "Rebéu, béu, pardais ao ninho?". E se beba o mítico "café com cheirinho"?
Somos o país do fado e do cante alentejano. Dos ranchos folclóricos que sobrevivem ao tempo, das tradições centenárias e das festas populares. Das tripas, do pastel de Belém, da sardinha no pão e das mil uma maneiras de se cozinhar bacalhau. Do vinho do Porto, do vinho verde à pressão e do abafadinho caseiro. Da hospitalidade com H maiúsculo e dos prazeres genuínos como os dias passados à volta da mesa. Da gigante diversidade natural num retangulo tão pequeno, da costa cheia de praias desertas sem fim. Da palavra saudade, que só quem fala português tem.
O Portugal dos pequeninos
Já nem falo do facto de sermos um país com uma das histórias mais antigas da Europa. Isso faz parte das coisas grandes, mas são realmente as coisas pequenas que nos tornam únicos na nossa identidade. Alguma delas nos paga a renda da casa? Não. Mas fazem de nós e não vale a pena querermos eternamente ser como os outros. Somos nós e somos muito. Chega de termos vergonha de sermos Portugal.
A única coisa à partida simples que me envergonha é o Portugal dos pequeninos. Aquele Portugal do pequeno poder, da invejazinha, do diz que disse, dos chico-espertismo, da ode à incompetência, dos tachinhos, da incapacidade de nos sentirmos felizes pelo sucesso alheio. É feio e temos muito disto por cá. Mas também temos o resto.
Adoro ser portuguesa, talvez tanto como adoraria ser alemã se tivesse nascido na Alemanha. Este é o meu país, é a minha casa. É também o sítio onde o primeiro-ministro diz à minha geração que deve emigrar e onde as entidades patronais continuam a achar que os falsos recibos verdes são legais ou que discriminar mulheres grávidas e com filhos pequenos faz parte dos legítimos interesses das empresas. Às vezes tenho vontade de ir embora. E possivelmente até acabarei por o fazer. Mas nunca deixarei de gostar de ser portuguesa, mesmo que Portugal - no seu sentido mais burocrático - não tenha lá grande consideração por mim. António Zambujo, obrigada por me teres relembrado disso.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/vale-a-pena-termos-vergonha-de-portugal=f911769#ixzz3UjiVmGxP
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